A LÂMPADA DO CORAÇÃO

Os inesperados acontecimentos narrados
por aquele mendigo,
traziam em seu conteúdo o inusitado de
uma lenda com desdobramentos
de surrealismos inerentes aos fatos por
ele expostos.
Logo não pareciam só alucinações, pois
sua forma coerente levava seus
ouvintes a mergulharem no absurdo de
estarem diante de um gênio, sim,
um gênio das mil e uma noites com sua
lâmpada mágica e extraordinários poderes.
Corria o ano de 1990 na cidade de
Joinville, lá pelo mês de outubro, chegava o verão
e as pessoas ocupadas com seus labores
do dia a dia sonhavam com a proximidade
das férias de fim de ano, enquanto
alguns pássaros buscavam abrigo para a noite que
lenta e inexorável envolvia a tudo e
todos, um mendigo procurava abrigo esmolando
algum trocado. Assim, ocupado FAISAU,
esse era o nome do mendigo, encostou seus
pertences sob uma marquise, forrou o
chão com papelão e sentou-se, ao mesmo tempo
em que acendia um cigarro e perdia-se
em recordações de um tempo há muito esquecido
pelos homens. Lembrou ele dos muitos
países que percorrera como andarilho, buscando
o mais precioso e raro tesouro já
tocado pelas mãos dos homens durante a humana
jornada sobre a face da terra.
Rememorando suas aventuras e
desventuras, FAISAU adormeceu sob a marquise de uma
loja localizada na rua do Príncipe,
muito próximo a rua das Palmeiras, um local cercado de
história onde centenárias palmeiras
eram agora testemunhas silenciosas de mais um capítulo
do drama humano na pessoa daquele
mendigo, um tanto altivo em sua miserável condição.
No mesmo momento na distante Arábia
Saudita, o rei Abduhla III prostrava-se voltado para
Meca e com o rosto tocando o solo,
rogava a Ala em cega fé implorando pelo retorno de
seu filho, o príncipe FAISAU, um jovem
místico e sonhador que há mais de 20 anos corria
o mundo em busca da lendária lâmpada
mágica do coração, como se a ilusão da lenda
pudesse por sonho ser em um instante
algo real, trazendo ao mundo dos homens um gênio
poderoso e capaz de realizar-lhe todos
os desejos.
Enquanto na Arábia a fé movia e
alimentava o coração do velho Abduhla, no distante Brasil,
mais precisamente em Joinville
misteriosas forças conspiravam para um surpreendente
desfecho nas vidas de tão incríveis
contrastes separadas pela fé, pelo amor e pela insensatez
mística capaz de mover no caminho dos
homens tantas montanhas quantas se deparem os
seus discípulos. Abraçado a seus
precários pertences, o príncipe mendigo sonhava, e eis que
lhe saudava um ser, um gênio, um anjo
ou um Deus o qual lhe inspirava profundo respeito
e imensa paz. O místico ser dizia a
FAISAU ser ele o fim da jornada, a raridade tão
ansiosamente pelo príncipe perseguida.
Enquanto no mesmo instante corriam na
tela mental de FAISAU, suas noites de frio, lágrimas
e fome se lhe sucediam também na mente
o poder, a força e o brilho por ter doado de sua
vida tanto tempo e esforço, além de
seus melhores dias da juventude naquela busca insana
ali terminada. Em seus sonhos, FAISAU
recebia do gênio inúmeras lições de capacitação
enquanto exercitava seus conhecimentos
místicos adquiridos por osmose tanta sabedoria
quanto lhe permitia sua limitada humana
condição, o gênio solicitou-lhe que fizesse três
pedidos dos quais deveria estar o
príncipe ciente de que, o que muda a vida das pessoas
não é o que buscam ou pedem, mas sim,
os verdadeiros e secretos motivos do por quê o
fazem. O príncipe mendigo após breve
silêncio, ainda em sonho, fez seu primeiro pedido
rogando ao gênio para tornar aquele
sonho algo palpável e materialmente real, sorriu-lhe
o gênio dizendo:  Pedistes
bem… que assim seja, então no
mesmo momento estava FAISAU
acordado em um sonho agora palpável, o
príncipe entre incrédulo e boquiaberto via diante
de si um vulto luminoso lembrando a
forma humana de onde ouviu novamente a voz do gênio
pedindo-lhe para que fizesse o segundo
pedido, então desejou ele ser servido todos os dias
de sua vida pelo gênio.  Quando
o príncipe FAISAU então mendigo,
preparava-se para efetuar
seu terceiro e último pedido viu-se
rodeado por alguns populares além de dois policiais os
quais lhe informavam não poder dormir
ali. FAISAU desculpou-se com um português atravessado
e cheio de sotaque, enquanto reunia
seus pertences no intuito de procurar outro lugar para passar
o resto da noite, ele deparou-se com
uma velha lâmpada a qual em sua forma lembrava as
lâmpadas a óleo usadas no oriente
antigo para iluminar os ambientes durante a noite.
Um adolescente perguntou ao mendigo se
aquela era uma lâmpada mágica, para
delírio e sarcasmo dos curiosos que aos
poucos envolveram o mendigo e os policiais
por pura curiosidade. O mendigo sem se
importar virou-se para o garoto, narrou-lhe e
aos presentes todo o ocorrido desde 20
anos até aquele momento.
Alguns chamavam-lhe de maluco, outros
ouviam-no com indisfarçavel interesse e/ou
inconfessável ganância por pura ânsia
de tomarem-lhe tão rara e poderosa lâmpada.
Enquanto falava ato contínuo, FAISAU
esfregava inadvertidamente entre as mãos sua
insofismável raridade, até que para o
espanto e pavor de muitos surgiu da lâmpada
estranha criatura envolta em luz e
névoa no mesmo instante que todos ouviam retumbante
vozeirão dizendo: Eis me aqui amado
mestre, estou a seu dispor e pela rara sabedoria de
seu segundo pedido, juro servir-lhe
enquanto durem seus dias sobre a terra.
Alguns curiosos fugiram apavorados,
enquanto outros faziam o sinal da cruz esconjurando
tanto o mendigo quanto sua lâmpada e
gênio. Já o adolescente em sincera e pura
curiosidade perguntou ao mendigo: Como
poderia descobrir sua própria lâmpada?
Respondeu-lhe porém, o gênio, dizendo
não existir uma receita mágica, porém atributos
tais como: pureza, sinceridade e
honestidade de coração. O jovem abatido com a
resposta por achá-la muito simples,
algo irreal, virava-se para sair quando o gênio
perguntou-lhe que pedido faria caso um
dia tivesse tal privilégio? Justiça social, melhor
distribuição de renda e paz entre os
povos. Disparou o garoto sem pensar muito, ouviu-se
e sentiu-se tristeza quando o gênio
informava ao garoto que nenhum poder sobre humano
nem o mais poderoso dos gênio poderia realizar
tais desejos, pois que só os homens
poderiam, já que tão somente aos homens
cabe por justiça cósmica ou lei da compensação
mudar tal estado de coisas desde que
descubram a lâmpada do coração e o gênio do bem
existente em cada coração humano.
Pena, porém, seguia o gênio dizendo que
apenas um em cada sete bilhões consiga tal feito
como acabara de conseguir seu amo, o
príncipe FAISAU.
FAISAU dirigiu-se ao gênio pedindo-lhe
que realizasse seu último desejo levando-o de
volta para sua casa, seu país. Assim em
um estalar de dedos do gênio restaram na calçada
alguns curiosos, dois policiais e um
garoto, todos em volta de alguns papelões, testemunhas
mudas de uma história das Arábias.
Alá seja louvado! Dizia chorando o rei
Abduhla III, ao abraçar seu filho, o príncipe FAISAU.
Um humilde mendigo, porém um poderoso
homem dono da lâmpada do coração a qual
revelava ao mundo o gênio do bem
alcançado apenas pelos que um dia acreditaram em
seus próprios corações.

RETIRADO DO MEU LIVRO
O CICLO DAS LAGRIMAS

JOSÉ IGNÁCIO GODOY
BRUXO GODOY

A MORTE É O MELHOR PONTO DE REFERENCIA ATÉ O CEMITÉRIO