NATUREZA MÃE

 

Cinquenta graus na sombra,
Castigaram em mim a ira da devastação,
Na força do meu machado e no fúnebre,
Concerto dos motosserras e tratores,
No desmatamento formando lavouras e pastagens!

As quatro e cinquenta,
No dia treze de fevereiro de um ano qualquer,
A alta madrugada o céu anunciou,
O fim da seca…  Hoje sem esperança,
Eu vejo que o clima está louco!

Coriscos riscaram um carrancudo céu,
Que gestava chuva de bênçãos em gotas de alivio,
Então ribombaram os trovões e a chuva veio,
Semeou alivio no mais tenebroso dos verões,
Que nos fustigou com abrasivo calorão!

Dancei com as gotas da chuva,
Respirei o cheiro da terra molhada, sim dancei,
Nas ruas empoeiradas de ressequida solidão…
Vivi a lição dos elementos e da Deusa mãe natureza,
Devolvendo aos homens o peso dos machados da devastação!

Em fim o castigo veio com juros,
Na sede e no desconforto… O preço do desmatamento,
Escorria no suor lambido pelas labaredas do sol,
Que em escaldante fornalha ardia na pele,
Tal golpe de navalha!

Chuva sua linda, até que em fim você veio,
Lavar minha angustia aliviando em mim,
O peso da culpa por ter sido um dos elos,
Da corrente da devastação… Há Deusa mãe,
Como anseio por teu perdão!

José Inácio Godoy
Mago peregrino