Subindo a rua, vinha uma catadora,
De papelão, dobrada sob o peso do seu,
Carrinho estava frio e caia uma garoa
Persistente e fria, desta que molha bobo,
A certa altura já mais próximo
Da jovem, notei que ela cantava, conversava
E olhava vez por outra para o carrinho
Estranhei o fato e parei dando azas
Para a curiosidade.

Ao chegar sob uma marquise, a jovem,
Estacionou seu carrinho, pegou um,
Litro descartável com água e lavou
As mãos ato contínuo, passou a lavar,
Os seios, assim meio escondida dos,
Pedestres. Foi até o carrinho abarrotado
De papelões, apanhou no meio da carga,
E muito bem protegido um bebe,
De seis meses, para amamenta-lo.

Aproximei-me e puxei conversa com
Aquela jovem, uma morena bonita,
E no viço da idade, o bebe era esperto,
Com olhos negros e de uma vivacidade,
De dar inveja, aparentando ser bem cuidado,
Vinda de outro estado fugiu com o pai
Do bebe, recentemente assassinado por,
Dividas do crack.

O senhorio mandou-a embora,
Sem ter para onde ir, mora na rua,
E o carrinho de papelão tem sido,
Sua salvação desde então, come vive,
E alimenta o filho arrastando em média
De cem a cento cinquenta quilos de papelão
E recicláveis ao dia, agora com dezenove
anos, E um filho para criar, não tem para onde ir,
Pois para casa a ignorância do pai não
A deixa voltar. Dorme com o bebe,
Na cooperativa de catadores e tem recebido
Apoio dos vizinhos e poucos amigos de
Confiança Que a vida lhe deu.

Perguntei-lhe sobre o futuro,
Sobre seus sonhos, seus desejos,
E esperanças?
E ela disse: Sabe moço, vou criar,
Meu filho bem criado e educado, um dia,
Ele será doutor, pois eu sou a mãe dele,
E tudo farei, para que seja assim,
Sou abençoada, tudo isso vai,
Passar eu tenho fé que Deus,
Já mandou um anjo para me ajudar,
E logo, logo eu e meu filho teremos,
Uma casinha para morar com um bom
Companheiro para juntos uma bela Família criar.

Olhou para o tempo, despediu-se,
Acomodou o bebe no carrinho,
E disse: É tio hoje vou ter que
Queimar papelão para me aquecer
E esquentar o filhote…
Seguiu sua vida, e eu? Bem, eu estava,
Pasmo, diante da fé e da determinação,
Daquela mamãe tão menina e já uma
Senhora mulher.

José Ignácio Godoy
Bruxo Godoy